sábado, 22 de novembro de 2014

“FOI DE RASGAR O CORAÇÃO”

“FOI DE RASGAR O CORAÇÃO”
Mara Gabrilli Programa Jô Soares – 19.11.2014

Nesta semana, o autismo, foi um assunto que agitou as postagens nos facebooks e similares da vida, e eu que não falei nada, embora tivesse compartilhado a repercussão, recebi algumas mensagens dizendo que se nada falasse a respeito era por que ainda não tinha saído das eleições presidenciais. Pelo contrário, saí e decidi que: o Brasil que perdeu, ganhou.  
Embora a imprensa brasileira nos últimos tempos, noticie um pouco mais sobre o autismo, não o faz com ênfase, até por estar dando mais atenção aos complexos temas que envolvem o Brasil nas páginas policiais que são mais espetaculares, sem se flagrar com a importância de assunto como políticas de saúde que não funcionam, com base no viés aparente de que cada povo tem o governo que merece.
O foco era a entrevista que a Mara Gabrilli, deputada federal reeleita, um ícone das pessoas com deficiência neste país, e relatora da Lei 12.764/12 (Lei Berenice Piana) que instituiu a política de proteção aos autistas concedeu ao Jô Soares, sobre a qual, observei para alguns que horas antes pela agitação e com o interesse na discussão, a audiência teve grande repercussão deixando, felizmente, vários temas para discussão.
O ponto principal da repercussão foi o de que o Jô “abriu uma oportunidade” para discutir o autismo no seu programa, tema ao qual ele resistia expor, por questões de ordem pessoal e isso é indiscutível, tendo em vista a irreparável perda do seu filho Rafinha, pessoa na condição de autista, até 51 anos de idade, dias antes, quando voltou para a Pátria Espiritual, legítimo lugar a que pertencia.
A presença extraordinária da Mara Gabrilli, falando com segurança sobre autismo, trouxe novo alento para que milhões de pais de autistas suscitem nova reação contra a falha no zelo das suas reais finalidades, do Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência - CONADE, que deixou inserir no texto de regulamentação da Lei 12.764/12, uma anomalia subliminar que destina os autistas para serem tratados nos CAPS – Centro de Atenção Psico Social onde lhes falta capacidade e capacitação, no mesmo nível de pessoas com esquizofrenia e dependentes químicos.
A única razão que autoriza o CONADE usar do artifício subliminar como a cilada disposta no artº 3º, Alínea “C” do texto da regulamentação da Lei 12.764/12, é a de ratificar o favorecimento comercial da iniciativa privada no âmbito das políticas publicas de saúde, colidindo frontalmente com a Constituição Federal.
As respostas pontuais dadas por Mara Gabrilli ao ser questionada por Jô Soares, que com sua experiência em autismo discutiu a seu tempo o apoio as necessidades da disciplina ser implantada nas faculdades de Medicina, tendo em vista a falta de capacitação existente, a exemplo dos tempos em que os médicos nada sabiam a respeito, bem como desconheciam os males da síndrome.
Os CAPS, que procedem a tratamento a dependentes químicos, alcoolismo, e outros transtornos, são apenas fornecedores de remédios reducionistas controlados, enquanto deveriam ser também uma instituição para atendimento, onde estaria incluído o tratamento terapêutico específico para autistas, mas não o é, resguardadas as especialidades e comorbidades inerentes à síndrome.
Autista se não é tratado adequadamente fica infeliz, e faz a família infeliz, disse Mara Gabrilli. Jô emendou exemplificando que quando seu filho Rafinha tinha dois anos, um médico disse à mãe dele: “esse menino aí, o melhor que você tem a fazer é fazer outro, porque esse não vai falar andar e escrever”. A expressão foi para comprovar a falta de conhecimento do médico que não tinha ideia do que fazer.
Existe uma “mania global” de dizer que o autismo é bonito, em face caracterização hollywoodiana de responsabilidade da indústria da mídia, a partir do filme Rain Man. O mais importante sobre a disfunção da imprensa com o autismo, é o aspecto qualitativo que ela pode apresentar, a partir do ponto essencial que é analisar e criticar sem agressividade, como costumeiramente acontece pelo mau uso da palavra.
Pais e interessados no autismo quando sabem das suas complexidades não se deixam iludir por ele.  A capacidade mesmo limitada de cada um permite saber que o autismo não pode ser considerado um erro moral e deve ser tratado como causa e não como um sintoma fantasioso, o que permite o aprendizado de todos.  
Já temos o nome da deputada federal Mara Gabrilli, do senador Paulo Paim, Berenice Piana de Piana a idealizadora da Lei 12.764/12, Ulisses Costa e Fernando Cotta destacadamente, gravados indelevelmente na história em favor das pessoas com deficiência, pela influência e na ajuda de inestimável valor na vida dos nossos filhos autistas. Quis agora a Providência Divina trazer Jô Soares para juntar-se a nós e outros certamente virão pelo que podem fazer por eles, interferindo com seus saberes pela exclusão da alínea “C” do decreto, como um primeiro passo.
O Ministério da Saúde tem conhecimento das sugestões para criação de centros de excelência para estudos do autismo custeados pelo Estado, e pela iniciativa privada para inclusão e independência dos autistas, sem a postura tradicional do assistencialismo, mas sim científica, por ser a Ciência a única forma para atingir os resultados necessários e promissores ao tratamento do espectro, porém só atendem sugestões de quem está ligado a interesses preexistentes discutíveis.
Os autistas tem capacidade de aprender. Temos que ter capacidade de ensiná-los.
Que a lei saia do papel, disse Mara.
Cabe-nos fazer com que nossos filhos não sofram mais do que o inevitável.  

Nilton Salvador